domingo, 28 de janeiro de 2018

A dança da chuva


O resto a gente dá um jeito.

As cabras no monte,

O meu corpo submerso nas pedras coloridas da manhã,

Os sonhos, as palavras que dançam com os sonhos, na esperança de um novo amanhecer,

Amanhã a gente dá um jeito,

Qualquer coisa serve, apenas uma sílaba de luz,

As mãos trémulas quando o teu sorriso acorda,

Após quatro horas de sofrimento,

Tens o olhar límpido, clareado como a areia do Mussulo,

Os barcos dançando no teu finíssimo cabelo de espuma,

E zás, cais sobre mim.

O mar que se afunda em ti, mergulha nos teus ossos, e da noite regressa um lápis desajeitado, como eu, descubro o sonho, finjo arder no sofrimento, mas em ti, apenas em ti oiço o amanhecer,

A dança da chuva, as flores donzelas sobre o teu peito, e uma vela acesa pela tua alma…

Há coisas estranhas em ti,

Camélias,

Cravos,

Rosas…

E as velhas salinas brincam nos teus olhos.

Amanhã.

Quando se levantar em ti a alvorada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 28 de Janeiro de 2018