sábado, 22 de julho de 2017

O cansado iluminado


Regressa a noite e não quero abrir os olhos,

Prefiro adormecer junto à lareira apagada,

Porque acesa já ela está,

O cansado iluminado,

Sentado,

Lê…

Escreve em ti o que lê…

E não tem pressa de partir,

Porque a partida é tristeza…

Desenhada nas paredes do meu quarto,

Regressa a noite,

Regressa o vento…

E o iluminado,

Cansado,

Foge em direcção ao mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Julho de 2017

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Nesta cidade, este corpo que pesa, e de lata…


Este silêncio que me mata,

Este corpo de lata,

Que habita indecentemente na tua mão,

Este corpo camuflado pela tristeza,

Quando o meu olhar alcança tão altiva beleza,

Este corpo que pesa,

E não serve para nada,

Este corpo sofrido e filho da madrugada,

Quando as aventuras se desenham no amanhecer…

As tonturas,

Nas palavras de escrever,

Este corpo que estorva,

E trás consigo a solidão,

Trova…

Passeio sem destino na carruagem do sofrimento,

Este corpo sem alento,

Descendo pedras e calhaus desagradados…

Soldados,

Que abatem este corpo com dignidade…

Este corpo que pertence à cidade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Julho de 2017

quarta-feira, 19 de julho de 2017

O apeadeiro da solidão


Tão longe entre montanhas e socalcos,

Cravado na terra cremada da saudade,

O comboio se perde nas curvas do amanhecer,

O apeadeiro da solidão agachado junto ao rio…

Sem conseguir adormecer,

Uma voz se perde na caminhada como se fosse apenas uma gaivota amedrontada…

Tão longe entre montanhas e socalcos,

Finge acordado,

Esperando os apitos aflitos do maquinista…

Até que o pôr-do-sol regressa,

E amanhã novo dia, nova noite, e a tarde sempre igual…

Nem vivalma para entreter o estômago do desassossego.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Julho de 2017

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O feitiço da madrugada


Há-de crescer no teu peito a saudade,

O lívido Oceano vergado à tua sombra longínqua…

Que brinca nas minhas mãos,

Um dia regressará a mim a tua sonolência em forma de deserto,

As árvores do teu passado são hoje páginas argamassadas de poesia,

Livros dispersos sobre o mar,

Escondo-me de ti,

Tenho medo que digas que envelheci…

E que o rio deixou de respirar,

Há-de crescer no teu peito o feitiço da madrugada,

As correntes que me prenderão aos socalcos inanimados…

A máscara espelhada nos lírios da insónia,

Fragrância perceptível nas andanças tuas pernas subindo o Chiado…

E, eu sentado na penumbra disfarçado de sem-abrigo…

Cuidado,

Stop,

Amanhã aparecerás em frente ao espelho,

Triste,

Tão triste meu amor…

Pertencer a estes livros estacionados na berma da morte.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 17 de Julho de 2017

domingo, 16 de julho de 2017

Palavras que me encantam


São as tuas palavras que me encantam,

São os teus livros que habitam em mim a razão de viver,

Caminhar junto ao rio…

Galgar os socalcos do querer…

São as tuas palavras que me encantam,

Durante a manhã,

À tarde…

De noite,

Palavras, tristes as tuas palavras…

Na planície do silêncio,

São as tuas palavras que me encantam,

E desalojam…

Deste cubículo de lata,

Onde durmo,

Vivo…

E morro.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 16 de Julho de 2017