sábado, 8 de julho de 2017

O homem suicidado (IV)


Uma caneta cravada no peito,

Jorram palavras amargas das veias do poeta,

O homem suicidado deita-se no chão firme junto ao mar…

Uma árvore cintila no vento invisível da noite,

A morte,

O homem suicidado sorri das flores sobre o seu corpo,

A cada dia, uma amoreira dorme,

Sonha…

Inventa desenhos no silêncio da escuridão,

A viagem renasce ao nascer do Sol,

A aventura de galgar os rochedos da solidão,

Adormecidos os corpos nos fósforos da miséria…

O poema grita,

Chora…

Uma caneta cravada no peito do artista,

O fim aproxima-se enquanto lá fora uma criança brinca…

E chora,

O poeta grita…

E morre na tua mão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 8 de Julho de 2017

quinta-feira, 6 de julho de 2017

As faúlhas que dormem na escuridão


Era teu, meu amor,

Agora pertenço ao grupo dos desalojados locais,

Apátrida,

Silencioso esquecimento das nuvens em flor,

Solstício da saudade, e lá ao longe, muito longe… um jardim de silêncios envenenados pela escuridão,

Onde adormecem as faúlhas,

Onde poisam todos os pássaros em papel,

Antes do nascimento do Sol…

Terra queimada,

Húmus da liberdade condicional,

Os livros suspensos no teu olhar…

Quando cai a noite,

Ausento-me,

Desapareço no horizonte…

E aproximo-me de ti como fazem as gaivotas na Primavera,

Abraçam-te,

Abraçam-te enquanto um velho relógio se engasga entre ao catorze e as quinze horas,

E morre…

E morre no pulso do poeta,

 

As faúlhas ventiladas das noites em claro,

A clarabóia do destino encalhada nas estrelas,

Como eu, como eu depois da partida do ausentado destino…

Velho, velho de morrer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 6 de Julho de 2017

terça-feira, 4 de julho de 2017

Cidade sonâmbula


Atravesso a cidade amedrontada,

Finjo não existir nas ruas sem saída,

A morte tem o seu encanto,

A partida… o não regressar nunca mais,

Atravesso a cidade sonâmbula que há em mim,

Deito-me no rio…

 

Sofro,

Choro,

 

E dizes-me que amanhã serei apenas poeira envenenada pela saudade,

 

A viagem às catacumbas do sono,

Invento desenhos no teu corpo,

Viajo incessantemente na sombra dos aciprestes…

E toco com a mão a fresca água da tua nascente,

 

Sofro,

Choro…

 

Enquanto houver luar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 4 de Julho de 2017

segunda-feira, 3 de julho de 2017

O homem suicidado (II)


Uma criança de luz adormece no teu sorriso prateado,

Oiço o rosnar do fumo dos teus cigarros envenenados pela escuridão,

E o teu corpo é apenas um amontoado de ossos,

Morres-me nas mãos,

Suicidas-te com as palavras perdidas na Calçada do Adeus,

Pobre criança sem Pai,

Pobre luz sem Mãe,

E do mar regressam as cordas do teu sofrimento,

Alicerças-te a mim,

Pareço um rochedo ingrime perfurando o intestino do suicidado…

Nada mais posso desejar,

Que partas em breve….

E sejas feliz assim,

 

Assinado,

 

O homem suicidado.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 3 de Julho de 2017

domingo, 2 de julho de 2017

O amor…


O amor…

Ai o amor acorrentado ao sorriso da manhã!

 

Palavras vãs,

Tristes sombras dos alegres divãs,

Onde me deito e esqueço a tua ausência,

Ai o amor da infinita infância,

Silêncio madrugada,

Flor abandonada,

Ai o amor…!

Ai nada.

 

Alfama,

Belém enamorada,

O Tejo na minha mão desmesurada…

Ai o amor…!

 

O amor de nada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 2 de Julho de 2017