sábado, 15 de agosto de 2015

Manhã de Luanda

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Sei que me esperas nas searas adormecidas,
Escreves o meu nome numa granítica sombra,
E eu,
E eu permaneço aqui, esperando que regresse o silêncio
E me traga a paixão,
Deixei de ouvir a tua voz,
Deixei de tocar no teu rosto,
Mas tenho as palavras do teu sorriso
Cravadas no meu peito,
Hei-de amar-te eternamente,
Desenhando nas estrelas os teus lábios,
Hei-de amar-te eternamente,
Escrevendo as lágrimas da chuva no teu cabelo…
E um dia,
A paixão nascerá numa manhã de Primavera,
Como eu nasci numa manhã em Luanda.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Agosto de 2015
 

Pequenas rotações de saudade

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Perdi-me nesta escuridão de cadáveres acorrentados ao luar,
Tenho em mim a fogueira da paixão,
Entre papéis rasgados e fotografias esquecidas numa qualquer caixa em cartão,
Perdi-me,
Deixei de ouvir as estrelas que brincavam no tecto do meu aposento,
Deixou de bater na minha janela o vento,
E as flores vestidas de luz,
Tombam como balas nos cortinados do sono,
Invento imagens nas paredes invisíveis da maré,
Agacho-me e escondo-me de ti…
Não adianta,
Sou sempre descoberto, sou sempre encontrado…
 
E a vida gira em pequenas rotações de saudade,
A voz rouca cessa e dorme,
E não sofre mais,
 
Amanhã, nascerá uma madrugada pincelada de cidade atravancada,
Buracos negros na boca,
Planetas longínquos procurando o corpo,
E o corpo deixou de dançar sobre a sombra periférica da alma,
Os barcos dentro de mim,
Os seios da tempestade entre equações e finais de tarde junto ao rio,
O término,
A viagem sem regresso…
O cais semeado de caixotes em madeira,
Palavras que nunca consegui decifrar…
E hoje
Recordo-o como sendo um jardim abandonado.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Agosto de 2015
 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Para os meus Pais com amor...

Poema rasgado

(desenho de Francisco Luís Fontinha)
 
 
Sinto a voz dos teus medos
Entranhada no meu peito rochoso,
Pareço o mar
Cansado de sonhar,
E levo nos ombros os barcos do entardecer,
Quando me sinto triste, tão triste de não escrever,
Tão triste de não te amar…
Restam-me as tuas mãos invisíveis no meu rosto,
Em lágrimas,
Entre as sombras das flores desenhadas
No teu corpo negro que apenas consola a solidão,
Sou um homem esculpido no coração da noite,
Não tenho futuro,
Não tenho a ambição de dormir sobre as tuas coxas abraçadas ao vento,
Mas quero tocar no luar,
Atravessar a ponte sobre a cidade do teu quarto,
Onde habitas, como uma andorinha sem sítio para poisar,
Rochoso,
Deambulas na minha escuridão,
Sofres, e amas… todas as pedras da calçada,
Estátua,
Canção entre poeira e árvores caducas,
Em lágrimas,
“Entre as sombras das flores desenhadas
No teu corpo negro que apenas consola a solidão”,
Descalça, cansada do meu olhar,
Não tenho tempo para sofrer,
Nem chorar…
Sinto a voz dos teus medos
Entranhada no meu peito rochoso,
Espero o acordar do amanhecer,
Sentado em frente ao espelho…
Não vens,
Sei que nunca mais regressarás aos meus braços,
Como este poema rasgado
E lançado no abismo da paixão…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Agosto de 2015
 

 (Francisco Luís Fontinha)

Noite sem nome

(Francisco Luís Fontinha – 14/08/2015)
 
 
Nunca me disseste onde aprisionaste os teus olhos cinzentos,
Permaneço um farrapo dançando ao som do vento,
São tão tristes as noites, meu amor…
 
Pareço um veleiro acorrentado às fotografias de ontem,
Olho-me de espingarda ao tiracolo da minha sombra,
Tenho balas em cartão,
Beijos floridos fundeados no teu coração…
 
E sinto-me contente porque fumo, bebo… respiro o perfume da tua ausência,
 
Não existe em mim a solidão,
O medo…
E as belas âncoras dos teus seios gritando…
Saudade,
 
Escrevendo no meu corpo…
Amo-te,
 
Desenhando nos meus braços,
 
A cidade.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Agosto de 2015
 

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

 (Francisco Luís Fontinha / 13-08-2015)

Musseques da solidão…


Encosto o meu cansaço aos sons nocturnos das tuas lágrimas,

Sinto o silêncio do teu coração,

Fogem-me as palavras,

E o medo embrulha-se em mim,

Não tenho alma,

Não tenho fôlego para gritar aos pássaros…

Que habitam no teu cabelo,

E o rio que brinca nas minhas veias,

Aos poucos,

Cessa de correr para o mar,

Senta-se,

Lê… e desaparece nos musseques da solidão…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 13 de Agosto de 2015

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O amor de tão pouco…

(Francisco Luís Fontinha)
 
 
O amor entre quatro paredes em vidro
Pincelado por um louco,
O amor de tão pouco…
Em nada satisfaz a luz da solidão,
Um coração dilui-se na madrugada semeada nas palavras,
O livro que o louco tem na mão…
Arde como ardem os cigarros das quatro paredes em vidro,
Esqueci como era o mar,
Esqueci como enferrujado está o meu corpo,
Sem perceber a mendicidade nocturna das pontes entrelaçadas nos petroleiros do luar,
O meu relógio cessou de gritar,
Afogou-se numa esplanada de vento…
 
Quando o rio brinca nos meus lábios,
Sinto-te correndo em direcção às quatro paredes em vidro,
Escondes-te no meu peito,
Sofres,
E não sabes o nome da minha cidade,
O amor de tão pouco…
Louco travestido de alvenaria,
Entro, sento-me… e fico até encerrar a livraria,
A paixão é uma tempestade de saudade,
E nunca sei se hoje há literatura nas tuas coxas,
E nunca sei se hoje há coxas embrulhadas em literatura…
Porque tu és um quarto escondido entre quatro paredes em vidro.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 12 de Agosto de 2015
 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

 
 (Francisco Luís Fontinha - Alijó)

Prisioneiro das marés vadias


Permaneço impávido em frente a este cadáver espelho,

 

Olho e sinto o mar enrolado nos meus braços,

Sou um prisioneiro das marés vadias,

Sem flores na minha algibeira,

As abelhas trazem-me os tristes beijos da madrugada,

Nos rochedos habitam os ossos da noite,

E nunca tenho tempo de sorrir para as estrelas…

Permaneço sentado,

De corda ao pescoço,

Como um boneco em palha…

Enlatado,

Vagabundo rosto,

Que ninguém consegue desenhar,

 

Que ninguém sabe consolar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 11 de Agosto de 2015

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

E desta carta… pó


Desta carta escrita

Nada restará

Será pó

Melodia desencantada

Como triste

A madrugada

Como triste a noite magoada

Desta carta…

Nenhuma réstia de silêncio sobejará

A enjoada jangada que transporta a solidão

Cai sobre a sombra desorientada dos meus braços alicerçados à terra

E eu sonharei,

 

Um dia

Uma cidade inventada

Nascerá no meu peito

Com ruas

Casas desabitadas

Gente cansada

Crianças à volta das árvores…

Gritando junto aos barcos em papel,

 

Não tenho medo

Não pertenço a esta melancólica avenida

Irritada

Sangrenta


E desta carta…

 

Pó.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 10 de Agosto de 2015

domingo, 9 de agosto de 2015

Amor embalsamado


Cansei-me da paixão

E dos telhados de vidro

Que vivem sós na cidade perdida,

Cansei-me das pedras mortas,

Tão distantes de mim…

E mesmo assim… procuro-as quando desço a calçada,

Não encontro o mar,

Perdi-o ainda eu mal caminhava,

Davam-me a mão,

Desenhava beijos na sombra da tarde,

E eu não acreditava…

Nas falsas luzes do olhar,

E do amor embalsamado num caixote em cartão…

Descia o poço da solidão,

Sentava-me nas tristes órbitas das palavras,

E sentia poisado no meu corpo,

Outro corpo,

Não o teu,

O dele…

Outro corpo,

Ossos,

Panos negros comendo silêncios…

Regressava a noite

E nunca tínhamos flores para oferecer

Às abelhas do sofrimento…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 9 de Agosto de 2015

Desenho


Não tenho sono,

Esta cidade foge de mim como foge o amor correndo em direcção ao mar,

Desço aos profundos poços do abismo,

Medo não o tenho,

Mas tenho medo do amor proibido…

O meu barco afundou-se,

Somos alguns marinheiros e alguma ferrugem,

Sei que não vou regressar,

Encontrar,

Os jardins da nossa infância,

Os beijos da adolescência,

Um soluço,

 

Dentro do mar,

Corríamos como cabras loucas procurando o luar,

Encontrávamos palavras,

E ribeiras a chorar,

Urgentemente… só como sempre o sonhei,

Aqui sobre esta pedra… a sonhar,

 

Aqui… solitariamente… recordando as lágrimas que chorei.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 9 de Agosto de 2015