sábado, 28 de fevereiro de 2015

as sombras do amanhecer


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


não inventes nos meus sonhos
a embriaguez da despedida
o silêncio pincelado de luar
quando ainda não existe luar na tua mão
não inventes
sonhos
viagens sem regresso
viagens sem partida
há dentro deste corpo
todos os alicerces da melancolia
há no teu olhar
as palavras da madrugada
sem fantasia...
e não sei porque me sento nesta pedra
esperando o esqueleto de papel
há muito esquecido na floresta
sem amor
sem paixão de saltar as sombras do amanhecer
e sempre que quero
não sei onde habitam os teus lábios
comestíveis beijos
não
inventes
sonhos nos meus sonhos sem vida...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

Crianças de luz


Não penso
não imagino as palavras semeadas nos relvados da saudade
não penso
não durmo
acreditando nas marés de vidro
descendo da montanha
imagino...
riscos suspensos na alvorada
crianças de luz gritando pela liberdade
e nada
nem ninguém
nas ruas desta cidade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os outros, o monstro das quatro cabeças brincando dentro de mim, saltava à corda, subia aos pinheiros pintados em papel cenário..., e havia sempre um pigmentado sorriso nos seus lábios, era Sexta-feira, daquelas Sextas-feiras que iluminam as imagens a preto e branco, o sono, a agonia de olhar o mar desenhado numa das paredes do quarto, escuro, ainda boiava a noite nas veias da adrenalina constelação do amor, aquele amor inventado apenas para adormecer na poesia, nada mais do que isso...
Isso o quê, meu amor!
Os outros, o monstro
Batem à porta,
Livros, livros nas mãos cardume do carteiro, assine aqui se faz favor, assinei, foi-se embora, escondido no arvoredo comecei a acariciar o envelope, lá dentro percebia-se que alguém existia para me abraçar, daqueles abraços trigonométricos, sabes?
Sei, os outros, o monstro, a perfeita nostalgia ,sebes de papel laminado voando sobre o jardim
O gajo passou-se, dizem...
Que sim, livros, Isso o quê, meu amor! Batem à porta, e falou comigo.



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015

insónia da noite


as palavras amaldiçoadas do teu poema
moribundo
sem personagens nem cidades floridas
os teus sonhos encantados
masturbados na triste insónia da noite
quando a noite deixou de existir
e hoje
apenas um cortinado de fumo
sem olhar
sem alma
se tens alma no teu amar...
se tens olhar na tua alma de brincar...
e as palavras de chorar
as fechaduras do teu peito
e as janelas dos teus seios
sem fotografia para o mar
se há olhar na tua alma
então este barco não é sucata
nem monstro da infância
se há alma no teu amar
porque existem correntes em aço
que me aprisionam a este muro em xisto...
com lábios em desejo
desejando a insónia da noite...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015
Os teus lábios acorrentados aos meus beijos embriagados pelo desejo, não o sinto, o vulcão da tua pele, não vejo o sorriso da tua mão, em vulcão, mergulhada nas palavras que o silêncio desenha na melancolia,
É falso,
O dia disfarçado de lápide, os outros destinos rejeitados pelo cacimbo, há uma fogueira no corpo da sinfonia do amor,
É falso,
O falso prazer, a liberdade to TEXAS e Cais do Sodré gingava na penumbra salgada do abismo,
O querido dança?
Fumo,
É falso,
São falsas, os textos a beleza e o amar, quando o amar pertence aos clandestinos eternos sonos dos Narcisos de prata, o pilar central do orgasmo mergulhada entre duas árvores,
Amar, amor,
Ao fundo os homens calcetando labaredas em poesia adormecida... é falso, que o amor morra nas planícies salgas do deserto...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2015

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Partida

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O dia suicida-se junto aos cedros
poisa na minha mão as suas lágrimas de chocolate
acende um cigarro
esconde os lábios na sonolência da cidade de prata
e parte
sem deixar saudade...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

sombra envenenada

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


o imaginado silêncio
pela orquídea do desejo
palavra por palavra
o sangue que foge da veia amaldiçoada
como a charrua
entranhada
na terra...
abraça-se ao poema
fingindo que amanhã não há madrugada
nem amanhecer
esta cidade inventada
em páginas de cartão

o imaginado silêncio
na mão
de uma sombra envenenada
ele espera pelo regresso da amada
mas o amor é uma carta
sem palavra
sem nada
que só a morte sabe reconhecer
quando o mar entra dentro de casa
e gritam
os barcos encalhados
nos semáforos da saudade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2015


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

as ruas húmidas do desejo

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


quando as palavras semeadas no papel envelhecido
morrem
aquele que as escreve
despede-se
entre lágrimas e falsos sorrisos
um desenho insignificante
poisa docemente no vulcão da madrugada
sem mágoa
ou... ou paixão
abraça-se à noite dos tristes aconchegos
grita pelos sonhos
e... e em vão...

percebe que a vida é um triângulo de luz
voando nas ruas húmidas do desejo
tenho medo do silêncio
e do cansaço dos dias junto ao rio...
aquele que as escreve
despede-se
e parece um vadio
esmiuçando ossos e cigarros
ou... ou talvez não...
porque tem no corpo um vazio
um buraco negro recheado de insónias e imagens sem nome
como têm os pássaros nos prismas imaginados por uma árvore doente...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

 
(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Os sete orgasmos do Mussulo, a liberdade sobre as palmeiras invisíveis que me atormentavam, como campânulas de sofrimento, ao deitar, o caixão que dançava deixou de o fazer, dificuldades com o cachê, dispensa de artistas e cadáveres de cera, um altar recheado de almas, tantas almas como os versos do sem-abrigo quando sentado numa cadeira apodrecida de um circo ambulante,
Quero ser artista, mãe!
Nem penses..., nem... penses...
Filho meu não é artista!
Nunca,
Nunca, mãe?
Os sete, juntos, e sós, no Mussulo era mais barato, a saia descaída, o soutien desenhado no peito
E...
Nunca, mãe?
Nunca,
Nunca
No peito uma flecha de sémen rodopiando no gelo do ringue de patinagem,,,, o belo, a dança... e o corpo em pequenas rotações...


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015

fotografia

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


o triturador do sono
mergulhado nos teus olhos incandescentes
tens nos lábios o pingente beijo
iluminado pela saudade
entre quatro paredes
paredes
sós
nem porta
janelas
cubículo de prata
onde habitam todos os cheiros da cidade...
as abelhas do amanhecer saboreando a tua pele de mel
como se tu
janelas
fosses um pedaço de pólen
ou
nem portas
e nas paredes
as frestas da insónia
sombreadas
e acorrentadas
às sílabas enforcadas
do velho barco de esferovite...
que em criança eu brincava.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


Um sem-abrigo, sem... e sem mundo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A morte dos esquissos preguiçosos e das palavras enamoradas,
o fogo do poema invadindo a biblioteca assombrada pelos cortinados vivos dos esqueletos de papel,
cá dentro, marés de solidão abraçam-se aos lápis e canetas abandonadas sobre a secretária,
os papeis parecem doentes, empilhados numa qualquer enfermaria...
esperam,
desesperam,
e acreditam que um dia vão ressuscitar...
mentira,
nunca o farei,
porque os papeis são para destruir
juntamente com o meu corpo de granito vagabundo,
um sem-abrigo, sem... e sem mundo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


domingo, 22 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A aldeia padece de claridade, existem fios de escuridão nos telhados cansados das palhotas de algodão,
Enigmático, eu?
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,
E palavras sem coração, sentia-me embriagado nas mãos do amanhecer, sentia-me um miúdo encostado à sonolência da idade,
A aldeia em chamas, os campos esbranquiçados na tela do desejo imaginavam canções de moluscos e alguns grãos de areia,
O desenho teu na cidade dos alicerces alienados, os bares em combustão, as miúdas dançando canções de solidão,
Amas-me?
Que não,
Que a arte vive e vai morrer no teu olhar,
Ouves-me?
E palavras sem coração, avenidas nuas, travestidas de machimbombos reumáticos voando sobre a cidade, eu... eu... adormecia,
Inventava beijos nos teus braços, a minha primeira paixão, imaginava-te uma flor triste e cansada, nos circos ambulantes da saudade,



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015

Estátua de gelo...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O amor suicida-se nos lábios do sorriso de xisto,
uma carta poisa respeitadamente sobre uma almofada granítica,
impregnada de silêncios
e fósforos adormecidos na inocência do poema,
faltam-me as palavras...
oiço-o nos braços do seu amante,
inventado beijos
e livros entranhados nos socalcos do desejo,
há no Outono uma noite em despedida,
a sinfonia da saudade
nas clarabóias do sexo,
e lá fora todos os transeuntes são imagens a preto e branco,
expostas numa parede branca,
descendo a calçada,
virava à direita,
o engate,
a rua,
em nada,
como lâminas de sono contra as marés de prata,
não quero os sonhos
nem os seios dos caixotes de vidro
que habitam as minhas mãos de medo,
o amor suicida-se
nos lábios do sorriso de xisto... e a penumbra é uma estátua de gelo...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Eles chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã, brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,
Foder num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...
Sabíamos que o corpo não pertencia às nossas vidas,
Clandestino, eréctil nas disciplinas do abismo, o poema esfomeado esperando o amante suicidado,
amanhã, amanhã nascerá um cansaço de medo no afastamento dos círculos das cidades embriagadas,
Sem iluminação, sem mulheres ou bares para combater a distracção, uns panfletos expostos na parede xistosa,
Há Tripas,
O caixão dançava no centro da sala de estar,
Confesso,
Nunca tinha assistido à dança de um caixão...
Já imaginaram o dançar de um caixão?
Há tripas e...
Moelas,



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 22 de Fevereiro de 2015