sábado, 21 de fevereiro de 2015

Calçada imaginada

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Imagino-te
nua
e triste
como uma calçada
ou uma simples rua...
mas tu não és uma calçada
nem és uma rua...
imagino-te
sentada
no jardim das acácias abandonadas...
mas tu
não és um jardim
nem és uma acácia
porque tu não és nada
nem imagem a preto e branco
nada
nada
apenas uma sombra descendo a calçada
imaginada...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Fevereiro de 2015


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Faltam-me as tuas mãos, mãe,
Café?
Viajo na tua saia e percebo que não temos regresso, regressar é um suicídio sem palavras, uma carta escrita, os motivos da tua ausência, as faltas da tua presença na Igreja, sinto-me quando abres a janela do quarto e tenho a certeza que estou vivo,
Bom dia, mãe...
Meu querido filho!
O livro cresce nas ardósias cinzentas da memória,
Que és enigmático, meu filho...
Que sim, minha mãe,
Que sim,
Telefonaram da Rua dos Mendigos?
Para mim, mãe?
A cidade embriagada nas sandálias do pescador, o mar, sempre o apaixonado mar, a paixão azul, do azul literário e poético...,sabes com é, mãe,
Pois,
Sei que semore sonhaste comigo,
Eu?
Sim, tu, mãe,
Quando dizias que aos três anos de idade já voava...



(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


Janelas prateadas

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Estes versos não têm destino,
imagino-me na penumbra saudade das arcadas em flor,
janelas prateadas,
com grades de nylon,
âncoras, barcos encalhados no meu peito,
o sal,
e a noite,
quando termina o calendário suspenso numa parede sem memória...
e o mar avança para mim como um cão faminto,
tão faminto como a própria sede,
a tranquila viagem nos confins da paixão,
como se alguém apagasse todos os candeeiros da cidade,
e todas as sombras do luar,
amanhã estes versos...
num mísero caixote perfumado,
com corações de areia húmida,
e nem assim conseguem acordar as jangadas de silêncio
que vivem enclausuradas numa rua sem nome,
nem idade...
estes
versos
não
têm destino...
ou estória.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sinto-me um caixote em madeira, um socalco lágrima descendo até ao Douro, uma eira, imaginada em Carvalhais – S. Pedro do Sul, sinto-me a noite vestida de negro, abraçada aos meus sonhos, sem poder mais,
Amanhã, meu amor!
O circo, os palhaços narcisados nas palavras escritas pelo fantasma do silêncio, a minha vida uma “merda” comparada com a vida dos meus vizinhos, hoje sonhei que a pobreza tinha morrido... como se a pobreza tenha morte... este momento embriagado em poemas de amor,
Poder mais...
Os sorrisos, a mentira do soneto sobre os ombros vergados de uma enxada, o cristal opaco que sobressai nas fotografias de infância, a dor, e a doença
Sinto-me
E a doença sifilítica nos dedos do artista, adormece a tela, o poema e a musa do poeta,
Sinto-me... um suicidado cadáver de esperma, um transeunte canalha com suspensórios e gravata, e sapatos de ponta delgada,
Um café Doutor?
Café...
Faltam-me os cigarros...



(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015

A última maré do dia...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O destino do homem sem cabeça,
mergulhado no silêncio dos beijos enlouquecidos,
às vezes é mendigo...
às vezes... tem medo do perigo,
e foge,
e esconde-se no volátil vulcão da pele em flor,
sem o saber,
apaixona-se
e morre
num jardim perto de casa,
é dono da rua infestada de pássaros
que habitam nas mãos das amoreiras,

Erguem-se as árvores nuas da saudade,
passeiam-se como estátuas nos subúrbios das pálpebras do desejo,
abraçam-se
e abraçam-se...
como loucos cubos de vidro
entranhados no luar,
o corpo emagrece
e voa sobre as calçadas de aço...
podíamos construir na noite uma jangada de espuma,
adormecer no olhar da última maré do dia...
e o destino do homem sem cabeça
nas arcadas invisíveis do infinito...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Regressar, mãe?
O texto escreve-se no teu corpo, a partida pertence ao passado, triste, tão triste como fazer amor num vão de escada,
Os gemidos,
Os silêncios mergulhados na algibeira do cansaço, amanhã saberei se me pertences, maldito caixote em madeira,
Alguns tarecos, meia dúzia de fotocópias de fotografias,
O mar, mãe?
O mar... morreu,
Como morrem todas as coisas belas.


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015

São as noites

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


São as noites perdidas nos teus braços invisíveis,
há nos teus lábios o sabor da partida,
entre beijos esquecidos,
e tardes amigas,
sentidas nebulosas mãos no meu rosto,
quando cresce em ti a solidão das marés em fúria,
são as noites,
que te trazem ao meu esconderijo,
sem espelhos adormecidos num quarto de pensão...
às palavras o silêncio,
quando desnuda te debruças sobre a madrugada,
e sentes... o meu corpo em cinzas navegando no teu ventre!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
Os livros,
E das coisas sem nome,
Sombras de mangueira?
E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,
Amanhã amo-te...
Partiram, fugiram das noites embriagadas com direito a limonada e a sexo, construíram cubatas nos musseques da alegria, saltaram muros e muros, tinha medo das curvas da vida, adivinhava os beijos como sendo abelhas em flor, sobre as casas sem nome, idade, e
Sexo?
Só depois das seis,
E sonhos, de um dia regressar...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015


A vírgula do desejo

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A morte suspende-se-lhe no peito
como uma âncora de luz atravessando a solidão dos dias
os minutos em euforia
depois de passar a tempestade
e nas mãos poisa uma caneta invisível
sem tinta
palavras...
os minutos desassossegados como cidades a arder
as cancelas do silêncio caminhando junto ao mar...
sós
nas lânguidas canções de areia
e nos atormentados sonhos da madrugada,

Uma vírgula sem Pátria
a aldeia encalhada nos seios da alvorada
uma flor cansada
na lapela
morte
depois regressam as saudades
e os beijos de papel...
e no peito nascerá uma lápide de sombra
como todas as lápides de sombra nos sótãos dos loucos amantes
em corpos incandescentes
do amor
e da paixão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Estes desenhos sem sentido, abstractos, doentes, malditos... sinto-o e finjo que ele não existe, não o quero ver, não me apetece falar com ele, amanhece nos teus braços e não me dou conta da liberdade das tuas mãos, das palavras dos teus lábios... e dos teus beijos geométricos,
A rima é de quem a trabalha,
Geométricas cintilações de cianeto, o azoto e os cigarros,
E tu?,
Amanhã amar-me-ás como hoje?
Mas hoje... não exuste, um caixote em madeira, alguns tarecos e meia dúzia de fotografias,
Todas,
Todas a preto e branco...

/ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2015

Lareira da solidão

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Os cigarros mortos
na boca do bandido
o silêncio adormecido
nos beijos da madrugada
os cigarros arrependidos
e apaixonados...
pela cidade desgovernada
como um livro... na lareira da solidão...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2015


Entrevista – Francisco Luís Fontinha – Miraonline Jornal


domingo, 15 de fevereiro de 2015

A viagem sem regresso

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer,
desassossegadamente, o teu corpo entrelaçado nos meus braços de xisto,
descendo cada socalco meu,
entre nós... o rio
e a saudade dos Sábados folheando livros,
e beijos,
perdi-me nas aldeias incendiadas do prazer
como se fosse um pássaro sem Pátria,
fugindo da lentidão das coisas belas,
os cigarros em tristes sorrisos de esferovite...
boiando como um carnívoro na liberdade das palavras,
com sotaque a náufrago envelhecido,

Sinto no corpo,
as garras e os fios de luz da loucura,
as cabeleiras falsas voando nos meus ombros
em chocolate embriagado,
os teus lábios pincelados de amanhecer...
e todas as janelas encerradas,
dentro de um caixote em madeira,
tarecos, miudezas e esqueletos de vinil,
a viagem sem regresso,
quando os seios da noite
mergulham nos alpendres floridos
e tu... junto à lareira da paixão,

Um livro,
Embrulham-se em nós as personagens da escuridão,
da tua mão
sinto
em pequeníssimas fatias de luar
a saudade e o perigoso feitiço do amor,
o livro saltita em nós,
come-nos e acende todas as lanternas do ciume...
não venhas, hoje, meu amor,
um livro,
e embrulham-se
em nós as lâminas da poesia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


As tristes viagens ao cacimbo da infância, o sombreado rosto no pavimento térreo e sem nome, as mangueiras no retrato do meu avô, de machimbombo na mão, abria-se o portão de entrada, um beijo, infinitos abraços... e o sentar numa cadeira de vime,
O cansaço disfarçado de saudade, a tela do silêncio em pequenos suspiros de amor, o sexo mergulhado nas frestas do passado, a morte e a loucura, e uma equação irresolúvel, menstruada nas sílabas da madrugada, não sei o significado desta noite,
Faltam-me as palavras,
E os desenhos,
Faltam-me as palavras certas para a tua boca de verniz, e quanto aos desenhos
Uma porcaria,
Sem nexo, abstractos como o teu sorriso, e tristes como o final da tarde junto ao rio, O Tejo embriagado nos meus lábios, os esqueletos de palha ardendo na maré, e uma porcaria
Os meus desenhos?
E tu,
Uma porcaria como todas as porcarias da minha vida,
E tu,
A “Divina Comédia”...
Entre as minhas pálpebras de arroz,


Francisco Luís Fontinha . Alijó
Domingo, 15 de Fevereiro de 2015