sábado, 19 de outubro de 2013

tracejadas mãos de areia nos seios sombreados da madrugada

foto de: A&M ART and Photos

se mergulho em ti é porque na constelação do teu olhar habita uma abelha
desenlaça-se e abraça-se aos beijos teus
se mergulho em ti
porque não o sei ou porque me esqueci
como pertenceram os teus lábios às sombras esqueléticas da noite
tracejadas
como lâminas disparadas por uma velha espingarda de cartão canelado
se mergulho no teu corpo
percebo que deixaste de o ser
ou...
talvez nunca o tenhas sido
… ou
talvez
tracejadas lâmpadas de luz esbranquiçada rosnando sobre as pedras da calçada
voando contra as montras sonolentas que os pilares mendigos
dormem no pavimento alimentado pela solidão
risos sinceros
vergonha de dizer-te
escrever-te
amo-te ou não te amo
a questão pertence às velhas teias de aranha
que brincavam nas frestas tuas mãos
se mergulho em ti é porque és o mar
ou um rio recheado de paixão...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Outubro de 2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

os lençóis da tristeza

foto de: A&M ART and Photos

dos lençóis da tristeza oiço os murmúrios que o cansaço deixa em mim
como conchas de sono pregadas na parede do desejo
o espelho que absorve os teus olhos é duplicado em migalhas de prata
e submergem
e suicidam-se
e não percebes que as entradas no silêncio o são proibidas
… inacessíveis
tristes
as nuvens castanhas com sabor a solução de luminol...
tangencias rectas crucificadas em ângulos trigonometricamente invisíveis
absortas
húmidas

queria ser uma sombra em granito
rompendo os soluços da noite
queria ser volátil
flor artificial junto à tua lápide
queria ser o túnel de vento
o buraco de minhoca
a teoria do caos...
a borboleta batendo as asas
e lá longe
os teus seios cintilando como avelãs
nozes
e fotografias envenenadas pelas lâmpadas de mármore

(não não tenho sorte nenhuma)

os triângulos da tua voz
são como grãos de areia mergulhados em sílabas melódicas
há conversas parvas entre copos de cerveja e perfume de vodka que um marinheiro Russo esqueceu na algibeira de um cargueiro com contentores de insónia
tenho medo de te encontrar e não entender o amanhecer que vive em ti
tenho medo do medo
medo de te amar e não saber que te amo
se é apenas amizade
vergonha de viver
ou... palavras apenas palavras sobejadas sobre a mesa da cozinha
dos lençóis da tristeza oiço os murmúrios que o cansaço deixa em mim
como conchas de sono pregadas na parede do desejo


(P.S. Amo os Pop Del Arte... como se eu fosse uma munição de areia e me entranhasse nos cobertores frios do teu corpo de solstício louco, lá fora chove, e eu quase que quero desaparecer sobre as árvores inconstantes da tua garganta, grito o teu nome, não percebem que existe um vagabundo igual a mim, que sofre, que ama, que vive fingindo viver... )


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 18 de Outubro de 2013

Aqui Há Poetas – Poesia Sem Gavetas II

Participação de Francisco Luís Fontinha - Alijó

quinta-feira, 17 de outubro de 2013


Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola
Francisco Luís Fontinha

Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...

foto de: A&M ART and Photos

Escrevo-te como se hoje fosse o meu último momento antes de partir, lá fora espera-me um bar recheado de alfazema e flores artificiais sobre as mesas, há cinzeiros que não me servem de nada, deixei de fumar, viver vivo como um mendigo suspenso no olhar da claridade nocturna das mãos de porcelana das candeias a petróleo, precisava de uma janela, precisava de uma porta e não me deixaram nada, apenas flores
Artificiais?
Sinto-o sufocado, deixou de ler, deixou de escrever, deixou de amar como amam os homens de cabelo cinzento, e deixou de pertencer ao infinito amanhecer para integrar o pelotão fantasma da solidão,
E uma lápide chora,
Dorme,
Inventa sepulturas nas rochas fundeadas no mar junto ao cais onde estão aprisionados barcos, veleiros e gajas com vestidos de chita, as ovelhas pastam nos longínquos lameiros da casa assombrada, e sem luz, e sem dinheiro...
As gajas não o amam,
Se fosses rico, filho!,
Não o é, nunca o foi, nunca o conseguirá ser, porque nasceu para ser trapezista num circo de aldeia, porque se apaixonou por uma bailarina e desde a fuga das ruas caneladas que habitavam os silêncios marginais dos aparelhos enferrujados, tais como, torradeiras, máquinas de lavar roupa, máquinas...
As gajas não me amam, queixava-se ele na confissão ao padre Abílio, e máquinas, e máquina de costura com mais de setenta e cinco anos, e a última vez que escrevi no teu corpo de insónia, foi, deixa-me recordar,
Não foi, esqueci-me que nunca tiveste corpo, esqueci-me que eu nunca soube escrever, e esqueci-me que tu és apenas uma janela sem vidros, pregada na fachada de um edifício, sem dentes, sem boca e lábios, e que afirma convictamente que os beijos são
Chocolate,
Que os beijos são de chocolate,
E eu, detesto, não gosto de chocolate, dizia-me ela sempre que a olhava e via dentro dela o cortinado rendado em voltas circunflexas devido à presença não permitida do vento, e
Proibida a entrada a pessoas estranhas à obra, e gajas com o corpo recheado de palavras, alguém tinha escrito nos seus corpos de granito, esculpido um desejo, desenhado um orgasmo, proibido fumar em recintos fechados, dentro do teu corpo, não, dentro dos teus abraços, não,
Chocolate,
No confessionário,
Que os beijos são de chocolate,
Ou
Não...
Que tu serás, foste e és a mentira mais linda que alguma vez existiu dentro dos meus olhos de verniz, que você pertenceu aos cogumelos venenosos e mendigos das florestas comestíveis em tarde de neblina, vinham-nos pedir para subirmos ao sótão da ingratidão, recusávamos, e tu
Não fumo, obrigado,
E tu ficavas inerte, indecisa entre
Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...
(Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...)
E eu, detesto, não gosto de chocolate, dizia-me ela sempre que a olhava e via dentro dela o cortinado rendado em voltas circunflexas devido à presença não permitida do vento, e o crucifixo das tuas sílabas de madrugada solitária deixava-se adormecer enquanto tu, tu rezavas às escondidas, e eu, detesto, não gosto
As gajas não o amam,
Se fosses rico, filho!,
De chocolate, dizia-me ela sempre que a olhava, Olha, sabes? Não, diz, O nosso telhado sofre de infiltrações, sinto quando chove... sobre o meu rosto pequenas gotas de plasma com pétalas de rosa, fazia de conta que não a ouvia,
Desculpa, não percebi, Dizes-me que o cortinado da sala de jantar está perdidamente apaixonado pela persiana da vizinha do terceiro direito? Não, não o pode ser... era o que nos faltava agora,
Apaixonados...
As gajas não o amam,
Se fosses rico, filho!,
(Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...Amo-o, não o amo, amo-o, não o amo...)
E decididamente, não.


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 17 de Outubro de 2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

No sorriso da lua, esse corpo pertence-te?

foto de: A&M ART and Photos

Este corpo não é o teu, esses olhos com que iluminas as noites cansadas na solidão da insónia... não são os teus, essa boca, e esses lábios, não te pertencem, não é a tua boca, não são os teus lábios, as noites com que embrulhas as palavras, não o são, as tuas pobres noites embriagadas com sofrimento e dor, e a vida que vives, também não te pertence, não és nada, apenas uma imagem deixada num banco em madeira, sentas-te na penumbra, olhas-me sabendo que eu não te vejo, porque tu não existes, porque tu nunca exististe, és uma mentira pregada numa cruz metálica, foste crucificada quando as nuvens ainda eram nuvens e hoje, como tu
Não são nada,
Esse corpo que estampas nos meus olhos não é o teu corpo, e os seios que trazes no peito... são apenas tangerinas perdidas nos muros de xisto enroladas em socalcos, abelhas e pedaços de pólen, não são nada, e tudo em ti, apenas janelas de cansaço com cortinados de algas com perfume de mendicidade, gostava de ser como tu, invisível, transparente, gostava de pertencer às pedras com películas mergulhadas em sais de prata, gostava de ser uma fotografia tua,
Não são nada,
No sorriso da lua, esse corpo pertence-te?
Como tu, o xisto esfarela-se e voa sobre os limos das volúpias ensanguentada que os mabecos deixam ficar sobre os charcos da infância, saltar à corda, jogar à bola, ao espeto... partir vidros por falta de pontaria, rir, brincar, chegar ao espelho e não acreditar que já não pertences aos corpos verdadeiros, em carne, ossos, palpáveis, comestíveis, corpos como aqueles que vivem nos edifícios das cidades dos machimbombos envenenados pelas tempestades de verniz que sobejaram das tuas unhas, como tu, o xisto esfarela-se e voa sobre os limos das volúpias ensanguentada que os mabecos deixam ficar sobre os charcos da infância, o livro de ti apaga-se, esconde-se dentro de gaveta da cómoda, sobre a mesa-de-cabeceira deixavas ficar as tuas pulseiras, os anéis... e outras tantas bugigangas, e as tatuagens que trazes no teu ombro esquerdo, hoje
No sorriso da lua, esse corpo pertence-te?
Hoje parecem cromos dispersos dentro de uma caderneta inacabada, extinta, húmida quando entra-nos pela janela o jardineiro, o frio, e os arbustos da despedida, depois ouvimos o rio, o rio com braços, pernas, púbis e coxas, e mandíbulas em aço inoxidável,
Ferro forjado,
Enferrujado e velho, as cordas dos tentáculos de vidro invadem o teu corpo, e dizem-me que...
Esse corpo não é o dela,
E dizem-me...
Ferro forjado, ferro e ferro, ferro do bom, ferro verdadeiro, corpo molhado sobre os lençóis da despedida em arbustos de lágrimas, o apito do teu vazio peito, o uivo do teu lento olhar, a bandeira dos teus alegres cabelos... e mesmo assim
Tu nunca exististe,
E mesmo assim...
Gosto de ti, gostava de ti, não o sei... talvez, amanhã, ou
Ontem?
Porquê ontem?
Tu nunca exististe,
E mesmo assim...
Gosto de ti, gostava de ti, não o sei... talvez, amanhã, ou
Ontem?
E nunca sei quando é Domingo, e nunca percebo porque acreditam as rosas nas folhas do teu livro... e ainda lá dormem, e depois
Ontem?
Dizias-me que esse corpo não era o teu, que não, pois as montanhas não falam e os pássaros não são barcos e as sanzalas não são tardes de melancolia, e o musseque não é a Primavera, o Outono...
Gosto de ti, gostava de ti, não o sei... talvez, amanhã, ou
Não falas, e dizes-me que esse
Corpo?
Não, não... e dizes-me que as minhas mãos são de pergaminho.


(não Revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 16 de Outubro de 203

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Esferas de desejo


Se os olhos são a tua boca
e os teus lábios o leme dos meus beijos
se o orvalho é o cais do teu cabelo
quando nele atracam esferas de desejo...
suspensas sobre as sílabas das tuas coxas...
oiço a tua voz nas conversas de solidão
sobre um divã magoado pelo teu peso de vidro
se os teus olhos são a tua boca
deixa-me ser o teu marinheiro como se tu fosses um barco atracado no meu coração
é madrugada
tu percebes as tristezas dos elefantes quando o capim se transforma em chuva
miudinha
e as poças de lama chamam-te de amor
e tu
amas-las como amas as minhas tristes palavras...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

O mar inventa-te e escreve-te como se tu fosses a mulher mais bela das marés de Outono

foto de: A&M ART and Photos

Do amor cansaço dizem-me as persianas do amanhecer, uma gaivota gira como um pião na mão de uma criança, do amor, dizem-me, da madrugada até ao desaparecer do sol que existem árvores com perfume de sonho, que vivem castelos de orvalho na ponta dos dedos da mão da criança que brinca com o pião, do amor, sinto-a mover-se como uma enxada mergulhada na crosta sincera do infinito luar, uma nuvem diz-me que todas as ruas da tua cidade extinguiram-se como pássaros em madeira estrangeira, há uma névoa de soalho esquecido no teu peito... e
Do amor,
O mar crescido nas planícies juntamente com a névoa de soalho
Na lareira?
O amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos... construía vestidos em chita para um palhaço de areia, e a morte ficava à entrada da porta, não entrava, tinha medo do boneco em palha que funcionava como espantalho, o milho ficava a salvo das garras dos melros e restante família e das tempestades embriagadas das noites intermináveis,
Na lareira? O mar crescido inventava lábios rosados na tua boca de livro apaixonado, havia entre nós uma ponte em esparguete, calculada por mim... não resistiu aos diversos ferimentos e partiu, e nunca mais regressou, as migalhas de ti, na minha algibeira, sinto-as quando puxo o lenço, sinto-as quando ainda acredito que tenho cigarros no bolso...
Meto a mão e em vez de cigarros
Tu?
O mar inventa-te e escreve-te como se tu fosses a mulher mais bela das marés de Outono, o mar parece um espelho repartido por vários inquilinos, grita o presidente do condomínio
Quem é a favor da expulsão da inquilina do sexto esquerdo levante a mão,
Ninguém,
O presidente do condomínio triste como abelhas em dia de feriado,
E tu, tu meu menino que brincas com o pião na tua mão mão, és a favor ou és contra?
O miúdo...
Quero lá saber... nem de cá sou,
O mar não é meu, o mar é apenas um quinto das migalhas de ti que trago na algibeira, o amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos...
Vestia o mar com insónias de chita, o pião sentia-o... como hei-de dizer... o pião esconde-se nas cordas e
O amor, o corpo incendeia-se, arde, evaporam-se as cinzas húmidas dos candeeiros de halogéneo quando as despedidas acordam, dois corpos se abraçaram, três corpos fingem olhar o rio, as lágrimas de três esqueletos são cortadas com a tesoura de costura da mãe Arminda, desenhava, recortava modelos em papel, depois, depois pegava num pedaço de pano e com a ajuda das sombras esquinas dos compartimentos exíguos...
(Na lareira? O mar crescido inventava lábios rosados na tua boca de livro apaixonado, havia entre nós uma ponte em esparguete, calculada por mim... não resistiu aos diversos ferimentos e partiu, e nunca mais regressou, as migalhas de ti, na minha algibeira, sinto-as quando puxo o lenço, sinto-as quando ainda acredito que tenho cigarros no bolso...
Meto a mão e em vez de cigarros)
Engraçadinha,
Que mais fará plopque...
O portátil pifou,
Engraçadinha,
Meto a mão e em vez de cigarros
Tu?
Adormecias nos meus braços...


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Outubro de 2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mágico espelho das palavras teus lábios


Um espelho perfumado olha-te e absorve-te, um espelho magoado puxa-te, e mergulhas no silêncio da penumbra lareira do desejo, olhas-te, e finges viver na solidão dos pássaros, perguntas-te
Quem sou?
E um emaranhado de palavras são pinceladas nos teus lábios de cetim, adormeces e vives, e sonhas
Quem sou eu, perguntas-te...
Um espelho suspende-se nas tuas costas e entranha-se na tua coluna vertebral... há sons melódicos na tua boca, há poéticas sílabas nas tuas mãos..., e

Quem sou eu?
E percebes que o espelho perfumado olha-te e absorve-te, e percebes que és filha das palavras, e percebes que és filha das imagens... e percebes
Que sou a noite?
Quem sou?
Um espelho, perfumado, um espelho perfumado com coração de cacimbo... perdido na areia.

@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013

poéticas madrugadas de ninguém

foto de: A&M ART and Photos

poéticas madrugadas de ninguém
mergulhadas no mar parecendo um veleiro embriagado
coitado...
poéticas manhãs sem sentido que da vida absorvem as tristes palavras de viver
as tristes caligrafias embainhadas no sofrimento alheio...
pensava-te dentro do meu corpo de estanho
montanha arrefecida depois da explosão de insónias labaredas em lábios de incenso
as tristes
poéticas madrugadas de ninguém
porque o são adormecem sem o saber
comendo magoados corações de areia
e bebendo as tempestades das sanzalas com telhados de vidro
poéticas tuas mãos
que poisam sobre o meu ombro curvado na sombra nocturna dos corredores sem portas
há fotografias perdidas que acordam de vez em quando
hoje umas
amanhã...
… as outras
todas elas poéticas madrugadas de ninguém
que ardem
e se extinguem no sonho de uma criança
esquecida
perdida...
perdida dentro do curvilíneo livro da infância


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013
Francisco Luís Fontinha - Alijó.
Participa na "Antologia SOLAR DOS POETAS - Volume I"

domingo, 13 de outubro de 2013

poderíamos

foto de; A&M ART and Photos

poderíamos ter um cão
uma cabana na montanha
uma cama
uma canção
uma flor com sintomas de paixão

poderíamos ter o mar
os filhos e as filhas do mar
as maré e o pôr-do-sol
poderíamos ter um cão
um letreiro e a esmola do mendigo que sentado na calçada suspira como gente ofegante

um olhar penetra no teu corpo doirado
poderíamos ter um cão
uma cabana na montanha
um sofá com asas de carvão
poderíamos... mas não mas não um triste sorriso de adormecer

uma noite mal dormida
chuva
neblina
chuveiro depois de fazermos amor...
poderíamos

poderíamos ter um cão
um rio com lábios de sangue
uma gaivota poisada sobre os andaimes do tos teus seios...
poderíamos ter um cão
beijos e uma lanterna com fotografias de sonhar


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes

foto de: A&M ART and Photos

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes
Sem sentido?
Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes
Sem sentido?
As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,
Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o
Telintar das nozes?
Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem
Sentido?
Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão
Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?
Os ratos,
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se
De ti?
Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas
Poemas?
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se
Sente-se...
Sentido?
Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei
Como começar?
Era uma vez...
Não, não o quero, não o consigo fazer
Porque elas caem?
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora
Caem as nozes
E as vozes,
Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e
Palavras?
Sim, sim,
Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...
Caírem sobre o talude da paixão,
Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de
Palavras?
Sim, sim,
Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de
Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...
As palavras ejaculam sílabas de arame.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013