sábado, 27 de outubro de 2012

Gritos uivos dos gemidos cansaços


O muro da paixão submerso nos alicerces das pequeníssimas gotinhas de luz
deitadas sobre a mesa-de-cabeceira
é sexta-feira e todas as coisas morrem quando acorda o dia
mergulhado na solidão aprisionada no sótão da casa,

Ouvem-se gritos uivos dos gemidos cansaços
dos sexos dilacerados nas nuvens de algodão
que a feiticeira rosa de sorriso encarnado
desenhou na areia fictícia que os cortinados escondem na algibeira dos sonhos,

O muro constrói-se de palavras e folhas de papel timbrado
com as insígnias íris do louco apaixonado pelas árvores sem soutien
descem da alvorada sifilítica as manhãs sem poesia
dos livros escondidos e proibidos pelos desejos dos relógios de pulso...

(poema não revisto)

Os jardins da saudade no meu peito de vidro


Levaste o coração de pedra
que se escondia no meu peito de vidro
agora sou um rio sem rochas
e quando aporta a noite nos meus olhos sem luar
sinto o vento esconder-se nas cavidades invisíveis da minha boca
como se as abelhas do oceano
sorrissem às esplanadas cansadas da velhíssima rua das janelas apodrecidas de tédio
e as mini saia cor da Primavera nos livros do segundo esquerdo,

Às coxas do poema vêm os milímetros cúbicos de desejo
que as mãos de um louco desenham no círculo verde
sobre a porta de entrada,

Há flores moribundas em processo de despedimento nos jardim da saudade
o chocolate lábio ao beijo no cardápio das sílabas enfeitadas com laços de mel
e sombras de silêncios no quintal da infância
um barco rompe debaixo das mangueiras a claridade da paixão
morta a paixão
sobejando os ossos do amor
e as palavras em lápides de cartão
no meu peito de vidro.

(poema não revisto)

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mágoa cansada noite de Outono


Não tenho nada para te oferecer
mágoa cansada noite de Outono
não tenho luzes que iluminem a tua boca em desespero
luar emagrecido sem destino das clareiras adormecidas
não tenho nada
meu amor em traços oblíquos dos beijos alimentados pelas cicatrizes do orvalho
quando deixo aberta a janela da morte
e sobre a mesa da doença
acorda o magro esqueleto da paixão
nas paredes frias e nuas da tua pele
e crescem as lágrimas enfeitiçadas das mãos assustadas que o vento constrói
no cais lento da despedida,

Não tenho nada dentro do meu peito
e o meu coração é um pedaço de xisto
odiado por uns
esquecido por tantos míseros desejos
nas majestosas tardes abraçado ao rio
não tenho nada para te oferecer
nem paixão
nem telas com muitas cores
nem as palavras poema
ou os poemas canção
na mágoa cansada noite de Outono
que inventa a tua boca.

(poema não revisto)

Despedida paixão impedida madrugada sem sentido


Em mim as chamas invisíveis dos vulcões imaginados
pelas árvores sem amanhecer
crucificadas nas fotografias do vento,

Em mim as cordas ondulantes que amarram os oceanos
às tábuas inclinadas da paixão
antes de adormecer,

Em mim a noite disfarçada de lua
com fios de água
nos lábios de incenso
às janelas cansadas que a cidade alimenta,

Em mim a tua boca em palavras
embrulhada nas vogais de algodão
e sílabas de mel
como se a infância regressasse do abismo infinito da terra amedrontada,

Em mim todas as coisas belas
e menos belas
na terra húmida do amor
em mim
para ti flor queimada na cintilante
madrugada
o meu beijo de despedida
e mais nada...

(poema não revisto)

Olhos lacrimejantes


Era noite e dentro do caderno preto
saltitava o rio ensanguentado
com as palavras desiludidas
na manhã chuvosa e fria,

O espelho dos silêncios
entranha-se no meu peito ferido
dorido
pelas sílabas abandonadas,

Salgadas
as tuas palavras de sofrimento
na minha boca doce,

Alimento
minhas cansadas mão de cetim
com o vento dos teus olhos lacrimejantes.

(poema não revisto)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Neblina do primeiro amor


Diziam que ele atravessava as paredes da insónia
quando os holofotes da fome desciam sobre o leito de madeira
e pedacinhos de xisto embrulhados em lágrimas de incenso,

Havia frestas nos silêncios pegajosos dos beijos em construção
desmesuradamente cansados da ausência tempestuosa dos sorrisos envergonhados
das rosas vermelhas em perfume cintilante com bolinhas cor de amêndoa,

Diziam que ele conversava com as sombras da cidade
e bebia o suor do rio solitário escondido nas ilhargas flutuantes do sono,

Diziam que ele era homem em corpo de mulher
à procura dos paralelepípedos da Ajuda
e cerrava os olhos
e escondia as lágrimas dentro da neblina do primeiro amor...

(poema não revisto)

A serpente feiticeira da paixão


Amargas as mandíbulas da paixão
na boca expressa da serpente feiticeira
os olhos desmesuradamente em direcção ao infinito
no silêncio da água ribeira,

As palavras comem as sombras do rodapé da algibeira
quando os sonhos brincam na madrugada
da serpente feiticeira
sereia carícia dos lábios da aldeia abandonada,

Amargas as mandíbulas da paixão
entre flores e beijos em cadências amanhecer
na boca o coração
em gemidos de prazer.

(poema não revisto)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Beijos da tua boca em desenhos de açúcar


O corpo solidifica-se nas nuvens de açúcar
das películas transparentes que brincam infinitamente
nas ondas cansadas do mar,

Preciso urgentemente das palavras do orvalho
que nas noites de inverno
as canções de silêncio apaixonado
transportam o vento às algibeiras do sonho,

Caiem sobre mim as luzes selvagens da cidade
nas damas de corações emagrecidos pela solidão da vida amarga e desmedida
que cresce nas madrugadas dos olhos do ciúme
saltitando de socalco em socalco,

O corpo solidifica-se nas entranhas sombras do amor
quando baixinho murmuras AMO-TE
e fico impacientemente sentado nos lábios do teu sorriso
para desenhar beijos na tua boca.

(poema não revisto)

A cidade dos cadáveres em pedras frias


Existiam sorrisos de dor
nas tuas palavras
pequeníssimos beijos de luz
na madrugada sem destino
o eu ausente
caminhando sobre o mar em flor
em menino
o amor
que a chuva sente
nas tardes de Outubro
o poema transforma-se em pedacinhos de xisto
e mel poisado nos lábios da amêndoa,

Procuro a cidade
dentro da algibeira dos cadáveres quando dormem sossegadamente
nas pedras frias do destino
a cidade cresce dentro das ruas sem saída
que o rio engole das janelas da manhã enfeitada com fios de papel,

Oiço vagarosamente os sorrisos de dor
nas tuas palavras,

e uma corda de sono
entrelaça-se nas minhas mãos esquecidas nas árvores do inverno
cai a noite sobre nós
e descem as estrelas até aos teus olhos de luar.

(poema não revisto)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Coisas belas


Tantas coisas belas
que dormem no centro da terra
coisas com asas de vidro
e olhos de prata
ruas com janelas
e telhados de chapa

tantas coisas belas
infinitamente apaixonadas
pelas madrugadas
elas
as flores engraçadas
que a noite alimenta

tantas coisas belas
docemente voando nas montanhas do mar
coisas com palavras de amar
belas de embalar
quando a lua e o luar
beijam as luzes da paixão silenciosa

tantas coisas belas
que brotam das tuas mãos de sílaba distraída
coisas e coisas belas elas
entre os parêntesis do beijo
sem jeito
no peito em ferida.

(poema não revisto)

As folhas cansadas do Outono


Apareces, desapareces, inventas sombras nas entranhas do xisto douro em socalcos de oiro, teces nos lábios do rio as palavras bronzeadas que a noite transpira, e inspira, o poeta que dança nos braços de uma canção, apareces, desapareces, e constróis desejos nos tentáculos do poema, o poeta enlouquece nos olhos enamorados dos plátanos ternos e meigos dos loiros fios de luz que a manhã desenha na areia,
e desce a noite sobre ti,
desapareces, apareces,
nos versos das folhas cansadas do Outono,

E dizem que a lua cor de amêndoa navega nas gaivotas do Tejo, apareces, desapareces, inventas sombras, inventas-me quando a janela do minguante silêncio aquece na tua pele de água adormecida, oiço-te voar debaixo do tecto da saudade, eu corro, eu procuro-te desenfreadamente no Rossio depois de se despedir a tarde dos sótãos suspensos na solidão,
inventas, e dizes-me depois de adormecerem todos os sonhos da cidade que o poeta enlouquece a madrugada e enrola-se nos candeeiros invisíveis que os pássaros trazem do outro lado do rio,

Apreces, e inventas-me, inventas a saudade, inventas o desejo, e desapareces dentro da neblina cinzenta dos cigarros quando vêm os barcos ao teu submerso corpo de papagaio de papel no cordel enfeitado que o miúdo lança contra o vento.

Francisco
23/10/2012

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O tempo infinitamente ausente


Ernesto F. acreditava nas mentiras envergonhadas que todas as tardes de sábado cresciam entre as amoreiras e as finitas palavras de Teresa que transportava nos lábios o medo do mar, e frente ao espelho da noite, antes de adormecer,

- E se o mar me comer, ouviam-se-lhe os gemidos poisados na proa transversal do esquelético poeta que inventava cigarros nas páginas rasuradas do livro de poemas esquecido na casa de banho do sótão sem janelas, e sem janelas não parapeitos, e não parapeitos, não pássaros nas fotografias da madrugada,

- um dia assassino todas as canetas de tinta permanente e o papel mata-borrão que me irritam, e sem sentido, fogem nas ilhargas cansadas da morte, Ernesto F. detestava a mentira escrita na ardósia sorridente dos palhaços pintados com acrílicos embrulhados na salgada água da boca da criança perdida junto ao rio encalhado na algibeira do velho Armindo, de manivela em riste, a dar corda ao tempo infinitamente ausente,

um dia, um simples dia, tudo e todos vão parar, fim da linha cruzada dentro dos anzóis solidificados que o amor constrói nas plantas imaginadas pelo ciúme do vidro enraizado no peito do crucifixo suspenso na luz abstracta da maré antes da lua mergulhar dentro das coxas fantasiadas de rosmaninho e alecrim doirado, sinto-o-as quando abro o livro dos sonhos e todas as mentiras perfiladas na parada da Ajuda, sobre o céu azul invisível do sofrimento encarnado que as gaivotas deixam cair nas ruas desabitadas de homens vestidos de cacilheiro em círculos no pequeno quarto do sótão,

escrevo-te como se fosse hoje o meu último dia, de vida, de sonhos, de prazer, o último de qualquer coisa palpável, o último sorriso, o último adeus quando sofregamente o cavalo de aço em pequeníssimos milímetros desaparece na ponte de madeira envernizada e que toda a vida me perseguiu na clandestina areia do Mussulo,

- tão branca mãe, e os castelos de desejo no pescoço frágil da mulher silenciosa e docemente feliz depois de me olhar pela primeira vez embrulhado nos ossos catalogados das janelas da maternidade, tão branca mãe, branquíssima mãe, toda a areia do Mussulo, e os lugarejos de amêndoa às mangueiras de sombra nocturna,

os pássaros caiam sobre a terra queimada de Janeiro.

(texto de ficção não revisto)

manhã de Outono fictícia


cessam as luzes dos teus olhos
manhã de Outono fictícia
sem perceberes que da janela da saudade
rompem lágrimas envergonhadas
tímidas
madrugadas
quando a paixão entra no orifício circunflexo da solidão
e no cubo do medo a tua voz mergulha nas bocas em desejo,

cessam as luzes
e os olhares das plantas
cessam todos os silêncios que a lua constrói
na mão clandestina de uma abelha,

tímidas
madrugadas
envergonhas
lágrimas
todas elas
à janela com cortinados de sémen
o amor dorme docemente nos teus lábios
manhã de Outono fictícia .

(poema não revisto)

domingo, 21 de outubro de 2012

Carris da solidão


És construída de medos
enraizados nos silêncios azuis que a noite sem destino
tece nas palavras que habitam os poemas,

toco-te e acaricio o papel de veludo dos teus cabelos
dentro do sorriso das estrelas
no centro da cidade
sem perceber que choras
e estás triste
cansada talvez
talvez moribunda como os relógios empoleirados nas árvores de domingo
quando a tarde mergulha no espelho do guarda-fato,

escondes-te no quarto escuro
negro como o universo infinito
das rectas paralelas
os carris da solidão
abraços
beijos
um simples olhar nas persianas do teu peito
bate o teu coração sem destino
furioso porque estupidamente eu caminho sobre o mar invisível
construída de medos
silêncios muitos
beijos,

eu
eu o homem de palha com cabeça de vidro
perdido na margem do rio
à procura da tua mão
deliciosa no meu rosto embaciado pela neblina da paixão
o teu corpo estremece na terra húmida que o púbis da literatura
escreve na madrugada
sem olhar para a lua da tua boca.

(poema não revisto)