sábado, 3 de março de 2012
O espelho da noite
Não penso
Hesito
Comer as palavras
Deitar-me dentro do sono
Abraçado à tempestade
Não penso
Hesito
Queimar todos os livros
Sentado
Olhando o rio embrulhado na cidade
Comer as palavras
Queimar todos os livros
Ao final da tarde
Não penso
Hesito
Esconder-me no espelho da noite
E cerrar todas as janelas com vista para o mar
Não penso
Hesito
Comer as palavras
Deitar-me dentro do sono
Abraçado à tempestade
Não penso
Hesito
Queimar todos os livros
Ao final da tarde
Hesito
Comer as palavras
Deitar-me dentro do sono
Abraçado à tempestade
Não penso
Hesito
Queimar todos os livros
Sentado
Olhando o rio embrulhado na cidade
Comer as palavras
Queimar todos os livros
Ao final da tarde
Não penso
Hesito
Esconder-me no espelho da noite
E cerrar todas as janelas com vista para o mar
Não penso
Hesito
Comer as palavras
Deitar-me dentro do sono
Abraçado à tempestade
Não penso
Hesito
Queimar todos os livros
Ao final da tarde
sexta-feira, 2 de março de 2012
Prisioneira de um livro de poemas
Desfaz-se o meu corpo
Como um papel cansado
Saboreando o vento
Que desce a montanha
E poisa no rio
Com cio
Em sofrimento
Este petroleiro desgovernado
Saboreando o vento
Descendo o rio
Desfaz-se o meu corpo
Como um papel cansado
Embrulhado em sílabas de néon
Com um lacinho de saudade
E penso nela
Prisioneira de um livro de poemas
Sem vaidade
À janela
(Saboreando o vento
Prisioneira de um livro de poemas)
Sentada no jardim da cidade.
Como um papel cansado
Saboreando o vento
Que desce a montanha
E poisa no rio
Com cio
Em sofrimento
Este petroleiro desgovernado
Saboreando o vento
Descendo o rio
Desfaz-se o meu corpo
Como um papel cansado
Embrulhado em sílabas de néon
Com um lacinho de saudade
E penso nela
Prisioneira de um livro de poemas
Sem vaidade
À janela
(Saboreando o vento
Prisioneira de um livro de poemas)
Sentada no jardim da cidade.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Espuma de silêncios
Visita-me ele todas as noites
Embrulhado em espuma de silêncios
Entra pela janela
E escreve numa parede invisível
(a que separa o dia da noite)
E escreve sem se cansar
Enquanto eu o olho
Sonho e também não me canso de sonhar
É transparente
Umas vezes está a chorar
E chama-se Mar.
Embrulhado em espuma de silêncios
Entra pela janela
E escreve numa parede invisível
(a que separa o dia da noite)
E escreve sem se cansar
Enquanto eu o olho
Sonho e também não me canso de sonhar
É transparente
Umas vezes está a chorar
E chama-se Mar.
Nas tardes de Luanda (em destaque no Sapo Angola)
Nas tardes de Luanda
Em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos para um parvalhão de um boneco apelidado de chapelhudo, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,
- Qual o parvalhão que batiza um parvalhão de um boneco de chapelhudo,
E em sorrisos pregados na umbreira abraçados à sombra das mangueiras respondia
- Eu,
Queria ser estilista em criança e nas tardes de Luanda ouvia-se o mar quando descia do céu e poisava sobre o ferrugento triciclo onde o parvalhão do chapelhudo entre provas e desaprovas adormecia em corridas de taxímetro e os machimbombos em círculos e círculos e circos onde trapezistas e malabaristas e miúdas de minissaia dançavam sobre o arame invisível da noite,
- Eu Dizia-me ele quando nos sentávamos no jardim e conversávamos sobre sonhos e nunca me esqueço de quando me perguntou O que queres ser quando fores grande?, e eu pensava e eu pensava e engasgado no sorvete do Baleizão respondia-lhe Não ser grande,
Quero ser um petroleiro ziguezagueando nas nuvens do pôr-do-sol e alimentar-me de vento e de espuma do mar, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,
- Parvalhão
Claro que me importo
Parvalhão que batiza um boneco de chapelhudo,
De ser grande e deixar de ver o mar a descer do céu e poisar sobre o ferrugento triciclo a tarde misturada nos silêncios do capim e dos pássaros fingindo que eram aviões E qual aviões menino E sempre soube que eram pássaros e sempre soube
- Claro que me importo,
Que o circo era a fingir, e sempre soube que a menina que andava a cavalo em frente ao portão do quintal era a fingir, e sempre soube que os petroleiros não ziguezagueiam e se ziguezagueiam é porque estão embriagados e tão pouco se alimentam de vento e de espuma do mar,
- Se me importo?
Claro que me importo quando passa por mim o Carlos Manuel com o chapelhudo ao colo que em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos e hoje mora numa pensão de Cais de Sodré e quando acorda a noite veste-se de Marilú e senta-se numa pedra junto ao Tejo a enrolar cigarros e a chamar pelo mar,
- Parvalhão,
O mar.
(texto de ficção)
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Os desamados
(Às vítimas do caciquismo)
Os íntegros são desamados
Os incompetentes muito avaliados
Os barcos são desgovernados
Os rios apedrejados
Os mendigos são odiados
E os desempregados
Coitados
Encurralados
Os íntegros são desamados
E os com currículo algemados
Cansados
Dos políticos aleijados
Os íntegros são desamados
Os incompetentes muito avaliados
Os barcos são desgovernados
Os rios apedrejados
Os mendigos são odiados
E os desempregados
Coitados
Encurralados
Os íntegros são desamados
E os com currículo algemados
Cansados
Dos políticos aleijados
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Nas tardes de Luanda
Em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos para um parvalhão de um boneco apelidado de chapelhudo, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,
- Qual o parvalhão que batiza um parvalhão de um boneco de chapelhudo,
E em sorrisos pregados na umbreira abraçados à sombra das mangueiras respondia
- Eu,
Queria ser estilista em criança e nas tardes de Luanda ouvia-se o mar quando descia do céu e poisava sobre o ferrugento triciclo onde o parvalhão do chapelhudo entre provas e desaprovas adormecia em corridas de taxímetro e os machimbombos em círculos e círculos e circos onde trapezistas e malabaristas e miúdas de minissaia dançavam sobre o arame invisível da noite,
- Eu Dizia-me ele quando nos sentávamos no jardim e conversávamos sobre sonhos e nunca me esqueço de quando me perguntou O que queres ser quando fores grande?, e eu pensava e eu pensava e engasgado no sorvete do Baleizão respondia-lhe Não ser grande,
Quero ser um petroleiro ziguezagueando nas nuvens do pôr-do-sol e alimentar-me de vento e de espuma do mar, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,
- Parvalhão
Claro que me importo
Parvalhão que batiza um boneco de chapelhudo,
De ser grande e deixar de ver o mar a descer do céu e poisar sobre o ferrugento triciclo a tarde misturada nos silêncios do capim e dos pássaros fingindo que eram aviões E qual aviões menino E sempre soube que eram pássaros e sempre soube
- Claro que me importo,
Que o circo era a fingir, e sempre soube que a menina que andava a cavalo em frente ao portão do quintal era a fingir, e sempre soube que os petroleiros não ziguezagueiam e se ziguezagueiam é porque estão embriagados e tão pouco se alimentam de vento e de espuma do mar,
- Se me importo?
Claro que me importo quando passa por mim o Carlos Manuel com o chapelhudo ao colo que em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos e hoje mora numa pensão de Cais de Sodré e quando acorda a noite veste-se de Marilú e senta-se numa pedra junto ao Tejo a enrolar cigarros e a chamar pelo mar,
- Parvalhão,
O mar.
(texto de ficção)
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Na tua boca
Na tua boca
As palavras dos meus versos sem nome
Que o desejo consome
E o amor cintila dentro da escuridão da noite
Na tua boca
Os meus lábios em desespero ardente
Um verso com corpo de gente
E olhos de mar
Que voa sem parar
Na tua boca
As flores cansadas de voar
As gaivotas que deixaram de florir
Na cidade louca
Com ruas a abarrotar
E um rio a sorrir
Que voam sem parar
As palavras dos meus versos sem nome
Que o desejo consome
Antes de acordar
As palavras dos meus versos sem nome
Que o desejo consome
E o amor cintila dentro da escuridão da noite
Na tua boca
Os meus lábios em desespero ardente
Um verso com corpo de gente
E olhos de mar
Que voa sem parar
Na tua boca
As flores cansadas de voar
As gaivotas que deixaram de florir
Na cidade louca
Com ruas a abarrotar
E um rio a sorrir
Que voam sem parar
As palavras dos meus versos sem nome
Que o desejo consome
Antes de acordar
domingo, 26 de fevereiro de 2012
As sílabas de sofrer
Desejar não desejando
As palavras tristes da noite
Que escrevo na mortalha da insónia
Pego num livro e finjo adormecer
Dentro dos lençóis amarrotados debaixo da claraboia do silêncio
Desejar não desejando
As sílabas de sofrer
Nas vogais amando
Viver sem viver
Viver sofrendo
As palavras tristes da noite
Que escrevo na mortalha da insónia
Pego num livro e finjo adormecer
Dentro dos lençóis amarrotados debaixo da claraboia do silêncio
Desejar não desejando
As sílabas de sofrer
Nas vogais amando
Viver sem viver
Viver sofrendo
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