sábado, 10 de dezembro de 2011


84,1 x 59,4 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Solidão do desejo

O teu sorriso
O meu sorriso
A tua boca e a minha boca
Perdidos numa cidade
Esquecidos numa calçada
Frente ao rio…

O teu sorriso
O meu sorriso
Duas sombras travestidas de saudade
Abraçadas à solidão do desejo
Os teus lábios nos meus lábios
O beijo

O teu sorriso
O meu sorriso
À sombra de uma árvore
Sentados no amor
A contar gaivotas
E desenhar no vento silêncios de prazer

O teu sorriso
O meu sorriso
Sílabas magoadas
No poema de sofrer
Porque o teu sorriso e o meu sorriso
São duas sombras travestidas de saudade

Abraçadas à solidão do desejo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Ataque de nervos

Os mercados financeiros andam muito nervosos, possivelmente padecem de uma depressão grave ou loucura que nem o psiquiatra do livro do António Lobo Antunes em Memória de Elefante consegue tratar.
Tudo é preciso ser feito para acalmar os mercados e as Agências de Rating.
Em nome dos mercados substituem-se chefes dos governos eleitos democraticamente pelo povo (Grécia e Itália) e qualquer dia, porque os mercados assim o querem, em Portugal vamos assistir à substituição do nosso primeiro-ministro por outro, porque os mercados assim o desejam, ou convém, sem eleições.
Muito em breve, alguns anos, não passaremos de peões nas mãos dos mercados, até quem sabe, escravos. Eles escolhem os governos e nós trabalhamos, mas sempre em silêncio, porque os meninos mercados podem ficar nervosos… ou pior, loucos.

“A Charlotte Brontë a cambalear à beira do KO químico voltou para a janela uma unha onde o verniz estalava:
- Alguma vez viu o sol lá fora, seu cabrão?
O psiquiatra gatafunhou CARALHO + CABRÃO = GRANDE FODA, rasgou a página e entregou-a à enfermeira:
- Percebe? Perguntou ele.” (In Memória de Elefante – António Lobo Antunes, pág. 19)

E apetece-me dizer e escrever; os mercados que se fodam.

E deixo de ser eu – Luís Fontinha


Poema e desenhos de Luís Fontinha
Música:
O Chá - Tchaikovsky - Royal Philharmonic
Trepak - Tchaikovsky - Royal Philharmonic

E deixo de ser eu

E levita o meu desgovernado corpo
Até à copa das árvores estacionadas junto ao rio
Um cacilheiro em arrotos
Finta as palavras do poema
E dentro do nevoeiro
Evapora-se pelo vórtice do desejo

O poema desfaz-se em pedacinhos de sílabas
E dos fluídos das vogais
Uma turbina zurra orgasmos na maré
A mecânica adormece as estruturas reticuladas em desânimo…
Que vagueiam nas ruas da cidade
E aos poucos desistem de viver

O meu corpo desgovernado
Na copa das árvores
Abraçado a integrais complexos
E nas minhas mãos
E no meu peito
A noite enterra-se e dorme

E deixo de ser eu.

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A morte

A morte
Uma fechadura que se encerra
Na porta de entrada da vida
A morte
Deitada sobre o alpendre da manhã
Suspensa nos cortinados da lua
A morte
O sussurro do vento
Nas paredes metálicas do silêncio

A morte
Vestida de madrugada
Na sombra das gaivotas
Antes de acordarem

A morte
Quando duas retas paralelas se encontram no infinito
E se beijam
E se abraçam

À morte.

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

De Repente, o caixão estremece. Uma Sombra – AL Berto

AL Berto na Casa Fernando Pessoa
De Repente, o caixão estremece. Uma Sombra – AL Berto
Desenhos de Luís Fontinha

O cubo de vidro – Poema de Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O cubo de vidro

No centro da galáxia
As tuas mãos prisioneiras no infinito
Um orgasmo curvilíneo
Dorme dentro de um cubo de vidro
E as tuas mãos acariciam-no
E às tuas mãos regressa a luz

Que à velocidade de trezentos mil quilómetros por segundo
Evapora-se do cachimbo de Einstein
Os uis e os ais do orgasmo curvilíneo
Que fogem do cubo de vidro
No centro da galáxia
Descem

Descem e escapam-se
Escapam-se por um buraco de minhoca
E acordam sobre o silêncio do mar
Onde os teus seios de malmequer
Esperam pelas tuas mãos
Prisioneiras no infinito

Estará o criador dentro do buraco de minhoca?
E se o criador não passar de uma complexa equação matemática
Que dentro do buraco de minhoca
Brinca com os uis e os ais do orgasmo curvilíneo
Que fugiram do cubo de vidro
No centro da galáxia?

No centro da galáxia
As tuas mãos prisioneiras no infinito
Um orgasmo curvilíneo
Dorme dentro de um cubo de vidro
E do buraco de minhoca
Vêm até mim as espátulas da noite recheadas de cereja e morango…

Cerro todas as luzes
E fecho todas as portas
E todas as janelas
Sento-me sobre o cubo de vido
No centro da galáxia
E conto as carícias do vento que poisam no meu peito

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Cigarro amarrotado

Noite
Um silencioso odor
Suspenso num cigarro amarrotado
Nos lábios de uma sombra

Na noite
Descem grãos de esperma
De árvores invisíveis
E os pássaros imaginários

(Noite
Um silêncio odor
Suspenso num cigarro amarrotado)
E os pássaros imaginários
Dançam nos seios da noite
Até mergulharem no púbis das estrelas

Noite
E o mar
E o menino vestido de mulher
Que corre no silencioso odor
Suspenso num cigarro amarrotado
Até que a morte os separe

Até que a morte poise sobre a mesinha de cabeceira
Abra silenciosamente o odor de um livro
Suspenso num cigarro amarrotado
Nos lábios de uma sombra
E a morte sorri ao menino
Vestido de mulher

Os cigarros em desejo – Poema de Luís Fontinha

Wordsong (AL Berto).
Wordsong é um projeto multimédia de Pedro d´Orey (Mler If Dada), Alexandre Cortez (Rádio Macau), Nuno Grácio e Filipe Valentim (Rádio Macau).

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia de me perguntar


Música - Orquestra Skomorokhi de São Petersburgo
Poema e Desenho - Luís Fontinha

84,1 x 59,4 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

O dia de me perguntar

Amar-te-ei quando os silêncios dos céus
Cessarem dentro da espuma enraivecida do mar
Pergunto-me

Amar-te-ei
Pergunto-me quando entro no espelho da manhã
E observo o meu rosto transformado em finíssimos fios de luz
Que se abraçam a uma gaivota em cio
O sol desfaz-se em grãos de nada
E eu pergunto-me se amar-te-ei

Quando cessarem dentro da espuma do mar
Os silêncios dos céus

E se o mar deixar de ser mar
E se os finíssimos fios de luz do meu rosto
Transformarem-se em xisto pregado aos socalcos do douro…
E se a manhã nunca mais for a manhã
E se a manhã deixar de ser um espelho
E se a manhã eternamente a porta de um cubículo

Sem janelas viradas para o mar
Pergunto-me se amar-te-ei
Quando um dia acordar
E o meu corpo deixar de ser corpo
E todas as flores serem desejos
E todos os corpos pêndulos de orgasmos junto ao rio

Pergunto-me se amar-te-ei
Pergunto-me
Amar-te-ei quando os silêncios dos céus
Cessarem dentro da espuma enraivecida do mar
Não sei
Se chegarei ao dia de me perguntar

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Medo do mar

Eu menino
Mergulhava no medo do mar
Cerrava os olhinhos com os silêncios da tarde
E na areia fina do Mussulo
Descia até às profundezas da terra
E ficava lá até que a noite me acordasse

Até que as estrelas se acendessem
Sobre a ilha
E levitando dentro do túnel da maré
Voltava a abrir lentamente os olhinhos…
E sentia os braços da minha mãe
Poisados dobre os pêndulos do meu corpo

Eu menino
Mergulhava no medo do mar
Inventava amigos que brincavam comigo
À sombra das mangueiras
E o meu triciclo fartava-se da minha companhia
E antes que chegasse a noite e me levasse para o mar

Eu corria eu corria eu… corria para as mãos dum boneco estúpido
Que batizei de chapelhudo
E hoje não tenho o mar nem medo do mar
E hoje sei que amo o mar
E hoje se fosse hoje não me escondia na areia fina do Mussulo
Hoje eu corria eu corria eu… corria até me cansar

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

14 de Janeiro – Wordsong (AL Berto)


Desenho de Luís Fontinha e música de Wordsong (AL Berto).
Wordsong é um projeto multimédia de Pedro d´Orey (Mler If Dada), Alexandre Cortez (Rádio Macau), Nuno Grácio e Filipe Valentim (Rádio Macau).
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/
http://francisco-orgasmosliterarios.blogspot.com/


59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

Prefácio para um Livro de Poemas - AL Berto


AL Berto na Casa Fernando Pessoa
Desenhos de Luís Fontinha
http://francisco-orgasmosliterarios.blogspot.com/
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/

Os cigarros em desejo

Procuro a cidade
Na algibeira da manhã
E na caixa de sapatos onde habito
Encosto-me às paredes de vidro
Que circundam o espaço exíguo dos meus sonhos
A cidade perde-se no silêncio do rio

Gaivotas amestradas
Brincam junto às bichas que buscam engate nas sombras de Belém
E sinto entre os dedos da minha mão invisível
Os cigarros em desejo
Quando olham do outro lado
A outra cidade enfeitada de luzes e lágrimas

Sento-me contra os candeeiros pregados à gaguez da tarde
Oiço na calçada os muros amarelos que ardem e desaparecem
E tal como os meus cigarros em desejo
Junto às bichas que buscam engate nas sombras de Belém
Ardem os muros ardem as árvores…
Tudo arde na algibeira da manhã e na caixa de sapatos onde habito

84,1 x 59,4 (desenho de Luís Fontinha)

domingo, 4 de dezembro de 2011


84,1 x 59,4 (desenho de Luís Fontinha)

Cesarini e o Retrato Rotativo de Jean Genet em Lisboa


Cesarini e o Retrato Rotativo de Jean Genet em Lisboa
AL Berto na Casa Fernando Pessoa
Desenho de Luís Fontinha

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

As árvores invisíveis

Morri,
Cessa o odor do meu corpo
Pendurado numa árvore invisível
E uma cidade imaginária
Com milhões de árvores invisíveis
Voam para o mar,

Morri,
E todos os que me amavam
Morreram;
(trinta e três cachimbos e quatro mil e quinhentos livros)
Que não me serviram de nada
Apenas que me amavam
E deixaram de me amar,

Morri,
E a cidade imaginária
Com milhões de árvores invisíveis
Sobre o mar imaginário
Olham o meu corpo
Que olha o odor do meu corpo

Pendurado numa árvore invisível,
Morri,
Morri sem perceber
Que sempre vivi sem viver…
Vivi numa cidade imaginária com milhões de árvores invisíveis
E que deixaram de me amar;
(trinta e três cachimbos e quatro mil e quinhentos livros).