Dá-me a tua mão, imagina
o luar descendo a montanha, imagina, imagina
o cais aprisionado a meia
dúzia de barcos,
todos de mão dada.
Imagina o rio correndo
por entre as lajes na busca de um cansaço, imagina, imagina
o silêncio das árvores,
nos teus lábios
Imagina o sol em passeio
nos teus olhos, escondendo-se do tristonho poeta
imagina as flores nas
tuas mãos, imagina o teu corpo em movimento circular uniformemente variado (se
não sabes o que é, deixa lá, não interessa)
imagina as ardósias a
brincarem às escondidas, umas escondem-se no teu cabelo, outras, outras
encodem-se no teu peito
invisíveis à madrugada
Dá-me a tua mão, imagina
os meus lábios poisados nos teus lábios, como as palavras do poeta poisadas sobre
a sebenta. Imagina
imagina a primeira
lágrima da manhã a não querer ser mais a tua última lágrima da noite
imagina o teu coração,
encerrado a sete chaves, no cofre teu peio, imagina
uma gaivota sobre o mar
imagina
em papel
Sobre o mar imagina
imagina que pegas na
minha mão e me levas a ver o mar, imagina
eu ao teu lado
a ver o mar
se eu nem sei onde fica esse
tal de mar, imagina
imagina, consegues
imaginar
Dá-me a tua mão!
(Francisco – 18/04/2024)